Não sei porque estou aqui.
Escrevendo, em um celular, acabo de remover o som do teclado. Me incomodou que este som se relacionasse com o ritmo de meus pensamentos. As vezes tento me despreender destas coisas, mesmo que banais, que sinto tentar querer me enquadrar.Não! Minhas palavras não terão esse som determinado. Somente o som que as próprias palavras resoam em pensamento.
Palavras enganam.
Nesta forma, palavras são falsas a uma ideia primeira. Palavras são resquícios afunilados, que conseguiram se mostrar após várias e várias camadas existentes entre o pensamento e a matéria. Já perderam o sabor.
Palavras são esponjas, elas acumulam através de anos e anos conceitos, definições, sentidos, gramáticas... e me espanta que essa esponja sempre retém somente as impurezas humanas. O que aconteceu com as palavras "índio", "manicômio", "hospício","lepra"...?
As palavras acabam tendo um prazo de validade, como um objeto qualquer, como um recipiente usado várias e várias vezes. Até chegar em um momento em que a palavra transborda de tanto acúmulo, de tanta impureza.
Ela é invalidada, deixa de existir. Vira um insulto.
As palavras "amor", "deus", "familia", "patria" (recentemente), tambem não escapam a corrosão do tempo, desfiguram-se.
Gestos também nao fogem a regra, alguns deles estão tão rebuscados como um padrão estabelecido, que é como mastigar algo totalmente sem sabor na tentativa vã de encontrar um mínimo de gosto ali. Ao invés, prefiro utilizar de gestos e palavras que busquem demonstrar a ideia primeira por entre caminhos adversos que fogem do padrão clichê. Ou, quando for certeiro , como um único caminho possível (ou o melhor possivel), que no mínimo seja verdadeiro. É como devolver a palavra e ao gesto seu sentido primário. Mas ainda sim é difícil, pois ela respira por aparelhos, e muitas já reversivelmentes poluídas.
Mas enfim, minhas palavras me confundem.
Por que estou aqui?