Fechem as cortinas,
desliguem o som
apaguem a luz
e faça silêncio.

Há algo de agitado que precisa se debater ate a exaustão;
e cair ainda exausto.
Exausto em vazio e em relutância.
Desarmado e entregue.
Esse vazio carregado é um estado em gestação,
um momento no ápeiron.

pós escarnio 
pós escoria
pós dor
pós confusão.

E depois de tudo,
de tantos pós,
depois de  tanto pó;
Nasce,

mais um filho da arte.

sensações de madrugadas ao nascer.
Rugas, remendos e ataduras;
nessa casca pequena que me atura.
Essa criatura!
ora vive sonhos de alturas
ora se vê dormindo, menor do que já é

Mas com a noite vem o sono!
Vem murmúrios uníssonos; 
das camadas que nos compõe.
Nossos corpos!
somos sonhos antigos embebidos de tempo;
que nos chegam, ao vento, como sopros no ouvido.
lembranças de caminhos 
já vividos

pessoas são sonhadas
quando não dormidas

Ano zero

                                   Oléo s/ tela- 50x70 cm

Livre!

E estas coisas velhas?
que o tempo (passou)
e deixou para trás.
Que serviram de suporte
que ostentava a grandeza que foi alguém.

Pessoas são a alma das coisas;
depois passam;
e ficam essas ferrugens
esses amarelidões
e todo esse pó.

Ficam como que abandonados
e vivem somente de lembranças 
e de passado;
até sumirem também.
Mas quem não conheceu a alma dessas coisas
não sabem de suas historias
mas trazem, ainda sim,
uma sensação de nostalgia. 


[coisas]

Tela vazia
apenas para quem não vê
que por trás do branco
a alma desagua no mar oceano. 

Um tom
é só um momento-canção
da infinita melodia
que ressoa
o mar oceano.
 
Um risco
é só um imovel-registro
do movimento continuo
que povoa
o mar oceano.

Por trás do branco
respira o mar oceano.
A chuva
o choro
da alma desaguando
na tela vazia
pintura que não cessa
infinita melodia
nela povoam
e por aqui ressoam
nessa tela vazia


[lembranças do mar oceano]

Alevinos

                                  Óleo s/ tela - 50x70cm